Nesses tempos de confusão política, defensores de ambos os lados e duas baita crises ética e econômica simultâneas em praticamente todos os setores de todas as esferas governamentais, a arte e a cultura também não poderiam sair ilesas de um comprometimento estrutural tão grande.
Tão certo quanto 2+2 são 4, é que a pura e simples lógica que ordena os números não pode ser aplicada para entender a profundidade em que consiste os seres humanos e não sei se a junção desses seres urbanos (o que é chamado de sociedade) seria uma simplificação ou uma complicação das dimensões do indivíduo.
Então desse balaio de gatos acabou saindo uma dicotomia artística com dois vieses antagônicos. O pessoal que faz cultura de esquerda e o outro grupo (muito menor), que produz a cultura de direita.
Para falar um pouco desse assunto espinhoso, vou me ater à matemática, ainda que saiba que ela não será suficiente para adentrar aos meandros das mentes artísticas, mas tendo a certeza de que a linguagem dos números irá ilustrar muito bem diversos detalhes.
Vamos à teoria dos conjuntos!
Imaginem dois círculos que se transpassam em suas extremidades. Nesses pontos entrelaçados ambos têm o que é comum à esquerda e à direita, como por exemplo a existência do estado, do dinheiro, das leis e diversos outros pontos. Pertencente somente ao círculo da esquerda, são encontrados valores como o funcionamento de estado maior, que assume inúmeras funções e tem o papel de protagonista em orientar, promover e regulamentar tudo o que diz respeito à sociedade, além dos temas chamados de “progressistas” quanto aos costumes. No círculo da direita estão as ideias da economia de mercado, onde o estado não atua em todas áreas e dá espaço para a iniciativa privada exercer uma série de atividades profissionais, além da pauta da de costumes ser orientada pelo conservadorismo.
Quero salientar que os casos extremos dos “progressistas” (palavra que a esquerda usa com sentido diferente do original, que era o de dar conotação à evolução tecnológica, urbanização, implantação de infraestrutura e modernidade), bem como os extremistas de direita (que deixam de ser conservadores e moderados para se tornarem reacionários), têm muita semelhança, onde os dois grupos ignoram quaisquer valores positivos dos seus diferentes e fazem uma espécie de guerra de narrativas, com a qual normalmente tentam ganhar “no grito” em face aos seus oponentes. E essa batalha de fanáticos é o primeiro dos pontos péssimos dessa luta cultural (mental), porque além dos artistas extremados, também há os públicos de radicais, além dos contratantes e imprensa que apenas dão exposição e trabalho aos artistas com orientação política e ideológica semelhante às suas, privando o público não radical da variedade e da diversidade.
Mas um dos pontos mais ridículos que as militâncias culturais encontram é a circunscrição dos temas que os próprios artistas podem abordar nas suas obras. Ou seja: Em geral o pessoal da esquerda fica no repeteco da lacração e apenas passeia pelos assuntos pertinentes à sua ideologia política. O que ocorre de maneira assemelhada com o pessoal da direita, que fixa os temas de suas obras nos preceitos de sua orientação política. Perceba que tanto em um caso, como no outro, há uma limitação enorme sobre os assuntos, as abordagens e a profundidade que podem ser dadas a cada tema.
Por incrível que pareça, existem coisas que não têm ligação com essas vertentes políticas, até porque esse embate sócio, politico e econômico não nasceu com os seres humanos e sequer vem dos confins dos tempos da humanidade, sendo que essa confusão toda só tem aproximadamente 400 anos.
E por conta de visualizarmos que toda essa bagunça deriva de apenas 4 séculos já é possível perceber que se o ser humano produziu arte e cultura desde a pré-história e mais intensamente à partir da história, que se inicia com o advento da escrita, há cerca de 3.500 anos, no Egito.
Então meus caros, essa briga toda para que os artistas da turminha x prevaleçam perante os da turminha y, simplesmente ignoram mais de 3 mil anos de história, onde foram feitos todos os tipos de arte e de cultura, sem que se precisasse rezar a cartilha da esquerda ou da direita e sem ter essas mordaças ideológicas, que muitas vezes são impostas pelas patrulhas ideológicas, ou mesmo auto impostas pelos próprias artistas para não se desconectar de seu quinhão de público.
Se você é um artista e estiver lendo esse texto, por favor pense em quantos assuntos você não pode falar por causa de uma ou de outra redoma ideológica.
Se você que está lendo for um amante da arte e da cultura, pense como boa parte da produção intelectual está limitada às pautas das duas ideologias antagônicas e perceba a gama de coisas que simplesmente não estão sendo ditas.
Penso que todos saiam perdendo muito por conta disso, exceto alguns partidos e políticos que lucram astronomicamente com toda essa digladiação artística!
Que todos tenham um ótimo, divertido e revigorante final de semana!