Fazendo uma decomposição analítica do que vem acontecendo na Venezuela vemos basicamente o seguinte:
O grupo que detém o poder é o dos políticos que estão alinhados com o ditador Nicolás Maduro e certamente não representam nem a maior parte da população, nem sequer a maior parte dos grupos políticos de lá, visto que nas eleições anteriores perderam a maioria do congresso e sendo que existe outro grupo político opositor que faz frente ao atual presidente.
O grupo que dá suporte (ainda que de forma instável e truculenta) ao prosseguimento do governo de Maduro é o dos militares. Segundo o site Wikipedia, as forças armadas venezuelanas (exército, marinha, aeronáutica e milícia nacional) tinham cerca de 123 mil membros em 2015, o que é uma fração mínima da população do país, que por sua vez tinha aproximadamente 32 milhões de pessoas em 2017.
O povo da Venezuela está em franco desespero e isso fica nítido ao vermos a fuga maciça de gente de todas as idades, tipos e condições físicas. Basta assistir aos noticiários para ver que tem adolescentes e adultos jovens no melhor condicionamento fugindo do país, assim como vemos idosos debilitados e obesos que praticamente arrastam pelas trilhas das florestas para sair de lá e virem a pé para o Brasil ou outros países vizinhos, onde inicialmente serão meros refugiados em péssimas condições de vida, sem suas famílias, costumes, língua, bens, certificados, ofícios e trabalhos e tudo mais que possibilita uma vida digna.
Outra evidência do desespero da população venezuelana é observada quando assistimos os jornais e vemos as imagens da nudez defensável com a qual as pessoas enfrentam as forças armadas oficiais do país. Eles simplesmente se colocam em frente às bombas de gás, balas de borracha e também de projéteis verdadeiros. Impõem-se de maneira febrilmente corajosa diante dos blindados, carros e motos para apanhar, serem atropelados e alvejados ao bel prazer dos homens do governo. E como apanham… E como morrem… São presas valentes, mas fáceis porque estão totalmente indefesos e desarmados, à mercê da mira dos agressores e da impunidade que esses algozes desfrutam e continuaram tendo com o triunfo de Maduro.
A Venezuela não é um barril de pólvora. É sim uma fogueira onde se queimam os cidadãos que gostariam de ter a devida liberdade de ir e vir, o tal do “direito à vida” (que só existe no papel), bem como gostariam de estar trabalhando para construir suas vidas e conquistar seus sonhos. Duvido que qualquer pessoa que esteja nas ruas dando suas gotas de sangue e de suor nos combates gostaria de estar fazendo exatamente, nesse momento. Tenho certeza que se perguntássemos há 10 anos: “O que você imagina estar fazendo em maio de 2019?” A resposta jamais seria: “Estarei sendo esfolado pelo exército de um ditador que afundou meu país, porque vou lutar pela liberdade.”
Uma população toda sujeita à vontade de uma minoria e propositadamente desarmada para que não se defenda…
O caso venezuelano se desenrola em repressão, censura, crise econômica e dissolução do sistema produtivo, sessão dos direitos civis e dos serviços básicos (comunicação, educação, saúde, transporte…), conflitos diplomáticos internacionais, internamente em conflitos armados, políticos e sociais e na perda de vidas e em lesões mentais e físicas em muitos seres humanos.
O caminho trilhado por esse país vizinho que detém imensas reservas de um dos bens mais valiosos da atualidade, o famigerado petróleo e, que deveria ser e estar rico por conta desse recurso natural tão abundante, mostra a dimensão que escolhas humanas erradas e nocivas têm frente às dádivas da natureza. Seja da natureza humana ou do meio ambiente. O que adianta tamanha riqueza se homens imbecis estragam as possibilidades dos bons destinos?!
Para nós brasileiros, espero que fique o profundo aprendizado de qual caminho “não” devemos seguir! Porque trilhamos nessa direção com todos os presidentes da república desde da constituinte de 1988 e o destino é certo e infalível: o fundo do poço!
Que todos prestem atenção no que vemos, porque longe do passado distante da revolução francesa, da revolução russa e da revolução chinesa, bem como da segunda guerra mundial e da guerra fira, agora temos um exemplo atual, e amplamente filmado, fotografado e documentado para nos mostrar para onde “não” devemos rumar.
Aprender o que não fazer é tão bom quanto aprender o que fazer!
Que todos tenham um ótimo final de semana!