A prova cabal de as pessoas gostam da qualidade fica por conta de seus espontâneos direcionamentos para as boas coisas, depois que acabam por conhecer tais opções.
Assim é com tudo: comida, bebida, roupas, moradia, automóveis e também a arte e o entretenimento.
Mas quando a mídia pensa no público como mero consumidor, ela acaba por fornecer apenas o que lhe é pedido, atendendo à demanda de seus clientes somente com o que eles conhecem e é impossível que uma pessoa peça ou queira algo que desconheça e sequer faça ideia que exista.
Quando os veículos de comunicação sedem majoritariamente aos interesses de seus anunciantes, a simples exposição para o máximo de pessoas (consumidores) possível, ocorrem alguns dos fenômenos que presenciamos na atualidade brasileira:
1) Para ter muita gente assistindo a mesma coisa é preciso que as mentes das pessoas sejam parecidas e tenham vontades iguais, ou seja, é preciso padronizar o consciente e o inconsciente coletivo.
2) Também é preciso que o público esteja disponível para sua lavagem cerebral nos momentos exatos das exibições dos programas de maior audiência, então as jornadas de trabalho e períodos de descanso também têm de coincidir.
3) Por fim, é necessário que haja a valorização dos objetos de desejo (os produtos comercializados) para que irrompa o sentimento da necessidade do consumo. E nesse caso, a arte se encarrega de apresentar personagens que utilizam certos objetos, roupas e consomem produtos que serão apresentados nos intervalos comerciais inseridos nos próprios programas veiculados.
4) A linguagem dos programas e das músicas também precisam ser bastante equivalente para que a maior parte das pessoas se identifiquem e possam entendam o que está sendo dito, de forma que não é surpresa que as músicas atuais apenas falem de bunda, sexo, bebida, diversão, ostentação e violência. Visto que a educação brasileira anda precária e insuficiente, o que mais uma legião de incultos poderia entender?!
Mas a vocação principal da humanidade não é simplesmente a de prover recursos financeiros para que consumidores (pessoas) repletos de desejos possam saciar suas fúrias materiais e fugazes com bugigangas e supérfluos durante suas vidas vazias e efêmeras.
O desvirtuamento da finalidade da comunicação humana e de seu principal instrumento, a mídia, é o mais atroz e mordaz subproduto da modernidade. E hoje se encontra elevado à enésima potência devido aos velocíssimos processadores e à amplitude infindável das bandas da telecomunicação.
Traduzindo: Colocamos satélites e mais satélites no espaço, torres e mais torres por toda a parte, antenas, geradores, células solares, cabos de fibra ótica por todo o canto, e fornecemos milhões de micro computadores de bolso (os celulares) para falar, cantar e exibir um conteúdo infindável de merdas, que para ser visualizado faz-se necessário primeiro assistir uma propaganda.
Todo esse aparato desenvolvido pelo homem ignora quase toda a melhor produção cultural e artística da humanidade, muitas vezes a colocando como “chata”. O que poderia ser a redenção da animalidade e da brutalidade humanas, agora está a serviço do comércio e do faturamento, lembrando que as empresas de telecomunicação e da mídia faturam somas estratosféricas com a esmerdificação da cultura da humanidade.
A escolha é sua: Você é gente ou consumidor?!
Findo com uma frase de Zé Ramalho, que já mostrava isso: “Ê, ô, ô, vida de gado! Povo marcado, ê! Povo feliz!”
Que todos tenhamos um ótimo, divertido e revigorante final de semana!
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