Já que não dá para não falar de política, mas teoricamente escrevo principalmente sobre música (ao menos assim eu desejava) vou trazer como pauta o novo disco de Lobão – “O Rigor e a Misericórdia” – e conseguirei abordar os dois temas em conjunto!
Num evidente tom de protesto solene contra a política autocrática que vigora no Brasil há mais de uma década, as letras e os arranjos deste álbum mostram logo ao quê vieram e levam o ouvinte a uma experiência sinfônica desde a primeira música até a terceira, “A Marcha dos Infames” que foi o primeiro single desse trabalho a ser lançado na Internet.
Já na quarta canção, o velho lobo parece voltar a uivar para a lua e com um arranjo de violas caipiras, sinos e com uma letra bucólica, há o retorno de certo romantismo onde o negro e o vermelho das chamas voltam a se encontrar com a alma que vagueia ao embalo das águas.
A quinta faixa continua dentro de um ambiente musical mais intimista, fala do amor, da solidão e em alguns momentos chega a lembrar do clássico do próprio Lobão, “Chorando no Campo”. Ela surpreende por ser cantada em espanhol.
Na nona música, “A Posse dos Impostores”, o disco retoma à política de forma ferrenha, rasgada e bastante tórrida; assemelhado à forma como somos assolados por tantos e tamanhos insultos dos atores dessa politicalha usurpadora praticada desde sempre nesse lindo país tropical, onde quase não cantam mais os sabiás!
Numa viagem que vai além da falsificação do bem, o ouvinte é levado a um questionamento existencial e durante o desenrolar da poesia da décima primeira música, “Profunda e Deslumbrante Como o Sol”, fica claro ser a forma como o poeta gostaria que fosse sua vida, pelas estradas musicais iluminadas.
Mas os lobos, o céu noturno, a lua e as estrelas são indissociáveis! E na décima segunda canção, “Uma Ilha Na Lua”, o firmamento aparece como tema de uma letra transcendental e reflexiva, que se desenrola numa harmonia descendente ao violão de cordas de aço, remetendo a algo de folk. Afinal, há tanto céu e tanta estrela para se contemplar nessa vida! Não é mesmo Dalila, Maria Bonita e Lampião? Creio que esses sejam os nomes de seus gatos de estimação.
E eis que então surge “O Rigor e a Misericórdia”, a décima quarta música que encerra o presente álbum! Ela parece sintetizar todo o disco com uma introdução suave ao violão e contendo trechos mais pesados com banda e guitarra distorcida e outros mais leves e líricos!
“Átomo por átomo, a queda não enobrece a quem jamais saiu do chão.” Com sacadas inteligentes como essa, o disco todo se desenrola de uma forma bastante musical e sendo talvez a obra mais autoral de Lobão, visto que ele mesmo compôs, escreveu todas as letras, cantou e tocou todos os instrumentos gravados!
A produção executiva foi de sua esposa, Regina Lopes Woerdenbag, as mixagems e masterizações foram realizadas por Diovainne Oliveira e a única participação especial ficou por conta de João Puig, que fez o vibrante solo de guitarra em “A Esperança é a Praia de um Outro Mar.”
Interessou?! Então segue o canal oficial de Lobão para que possa entrar em contato com o artista e sua obra: http://lobao.com.br
Novamente me despeço desejando a todos um ótimo, divertido, revigorante e muito musical final de semana, desta vez ao som do disco “O Rigor e a Misericórdia”!
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