Esse texto é um tributo ao maior percussionista de todos os tempos!
Mas de fúnebre não vai ter nada, porque daqui pra lá e de lá pra cá ninguém fica e quando vai; não volta! Mas as obras dos gênios ficam reverberando nos quatro cantos dos ossos das cabeças das pessoas e fazem com que seus elementos ecoem para além de si mesmos!
Talvez a melhor definição sobre que eu tenha visto recentemente, tenha vindo num simples post e sem grandes pretensões, mas quando artistas abrem suas bocas, ou apertam as teclas de seus computadores, simples frases ganham outras dimensões!
Nesse caso, a genialidade foi do guitarrista Nuno Mindelis, que escreveu o seguinte no Facebook: “Beijos, pessoas impermanentes de átomos eternos!”
Assim me sinto sobre o que percebo da eterna finitude humana! Nenhum paradoxo, nenhuma dúvida… Simples assim!
Mas sempre há quem pegue seus quilos de poeira estelar e faça algo mais do que comer e defecar. É um privilégio poder desfrutar dos produtos e subprodutos de uma existência fantástica e positiva. Há casos em que a arte supera a vida e há casos em que a realidade é tão objetiva e forte, que expressa sozinha a grandeza de feitos espetaculares.
Naná Vasconcelos era o maior, melhor e mais amplo percussionista deste planeta, eleito pelas mais importantes revistas do segmento musical e amado pela crítica e pelo público. Foi tão proeminente em sua área (a percussão) quanto Bach ao organ, Beethoven ao piano e Mozart na orquestra.
Com sua obra vasta e seus oito prêmios Grammy, era considerado a autoridade mundial na percussão e com seus 24 discos foi e voltou do terreiro para a erudição europeia tantas vezes que somente um liquidificador que batia a liberdade musical contemporânea poderia explicar tamanha diversidade!
Talvez seu maior parceiro e do qual mais gosto de vê-lo junto, tenha sido o outro gênio da música, Egberto Gismonti. Com ele, Naná gravou o célebre álbum “Dança das Cabeças” e nele se pode ouvir a versatilidade, profundidade, sensibilidade e imensa visão que ele tinha sobre a percussão.
Via-se a paisagem de fundo através dos sons da natureza (clima, fauna e flora) e também se dançava com os ritmos humanos pulsantes das culturas ancestrais. Mas Naná nunca parava por aí… Ele sempre tinha àquele seu liquidificador musical onde fazia as misturas mais surpreendentes e inimagináveis e, cada um de seus discos era diferente do outro!
Além de Egberto, Naná também fez música com B. B. King, Jean-Luc Ponty, David Byrne, Jon Hassell, Pat Metheny, Evelyn Glennie, Jan Garbarek, Don Cherry e Collin Walcott. Um currículo que só perde para o tamanho de sua música!
Mas “o rio não pára”! Foi o próprio Naná que me disse durante uma entrevista no Bourbon Festival Paraty do ano passado, quando pude vê-lo tocar ao vivo e conhecê-lo, ainda que brevemente (vide foto).
“O tempo está lá, na dele. Nós é que passamos.” E numa de suas passagens, Naná se debruçou em “Contar Histórias” e até lançou um disco solo com esse nome, “Storytelling”!
Sim, o câncer venceu o corpo, mas enquanto este mesmo corpo esteve alerta, ele golpeou as peles dos tambores e dos instrumentos e a esperteza do homem já havia construído a tecnologia para registrar aquele ar que vibrava e se transformava em som e este, em música!
Viva Naná! Obrigado pela sua música! E obrigado por fazer a minha vida melhor, pela forma como você viveu a sua!
Desejo a todos um ótimo, revigorante e muito, mas muito musical final de semana!
.