Ficar ou não ficar no Brasil. O que justificaria a saída ou a permanência aqui na terra das palmeiras onde cantam os sabiás?
Mergulhado nesse dilema, o publicitário Roberto Medina passou uma certa noite em claro e no dia seguinte, quando chegou em sua agência já estava com o nome e o formato do festival prontos, mesmo sem ter experiências anteriores no ramo do showbusiness.
Ainda que desacreditado por toda sua equipe e diante do desfavorável contexto sócio-político-econômico de 30 anos atrás, Medina insistiu em sua ideia e partiu para os USA para contratar as bandas. Na época lhe parecia simples porque tinha recursos para isso, mas todos os conjuntos contatados recusaram suas ofertas.
Nesse momento decisivo houve outro insight; então Frank Sinatra foi procurado e, solícito, enviou Lee Solters, seu relações públicas, para auxiliar o contato com a imprensa e com os conjuntos de rock. A partir disso, todos os grandes jornais norte-americanos publicaram que o maior show de rock do mundo iria acontecer no Brasil e as bandas que haviam recusado suas contratações agora faziam fila para participar do festival.
Nas palavras do próprio empresário: “Foi uma visão, uma intuição… Acho que o Rock in Rio me buscou, não fui eu que o busquei!”
De lá pra cá, o Brasil entrou para o cenário dos grandes shows internacionais e passou a figurar como importante país para o rock mundial. A ditadura caiu, foi promulgada a “constituição cidadã” em 1988, realizadas as primeiras eleições populares livres e entre avanços e retrocessos, cá estamos em 2015 celebrando os 30 anos de uma ideia grandiosa que partiu de uma só pessoa para literalmente fazer a cabeça milhões de outras.
Hoje o Rock in Rio coleciona 15 edições realizadas entre as cidades do Rio de Janeiro, Lisboa e Madrid, sendo que 6 delas aconteceram no Brasil e 9 foram realizadas em solo Europeu. Desde seu surgimento ele é o maior festival de rock e a maior marca de um evento no mundo, sendo mais importante do que a Copa do Mundo e do que a Fórmula 1 em certos lugares. Viva a música!
Segundo Roberto Medina, o evento acontecerá bienalmente aqui no país, o que me deixa muito feliz, por conta da vinda de grandes shows e das famosas bandas, mas também pelo enorme resíduo de comunicação que reverbera em todos os lugares, recolando o rock nas rodas de conversa, nas ondas dos rádios e das emissoras de TV e fazendo ressurgir todo um gênero musical que considero importante pela sua história e herança, que ultrapassam a simples diversão.
O rock abriga muitas culturas e muitos estilos de composição musical e de tipos de letras. É possível falar de amor, diversão, política, moda, sociedade, religião, pessoas, tradições, experiências, filosofias, histórias e uma infinidade de assuntos. Fora a diversidade das nuances que o gênero abriga, indo do mais pesado até o mais pop, passando pelo blues, jazz, soul, funk, ópera, músicas folclóricas de diversas nações, música erudita (clássica, romântica e barroca) e utilizando inúmeros tipos de instrumentos e formações dos conjuntos, que vão do simples power trio (com baixo, guitarra e bateria) até a orquestras inteiras, como foi o show que Steve Vai fez com a Camerata de Florianópolis e para mim foi um dos shows mais bonitos dessa edição.
Acredito que para os músicos e para as bandas, o Rock in Rio também possa servir como objetivo, criando uma espécie de ponto de chegada a ser conquistado profissionalmente, parecido com o que a MTV foi quando era TV aberta, mas que o Brasil não tinha mais para os roqueiros! E espero ver um cenário do rock fortalecido, criativo e revigorado!
Desta forma, me despeço desejando a todos um ótimo, divertido, revigorante e muito musical final de semana!
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