É impressionante como tudo está sendo mudado, repensado, recolocado, reposicionado, resignificado, renomeado e (pelo menos teoricamente) melhorado.
Estive refletindo sobre essa fase de ladainhas que atravessamos e me ocorreu um contraditório bastante concreto sobre tudo isso. Ponderem: Estão propondo rever a história da humanidade, passá-la a limpo e ainda criar legislações de acordo com as conclusões e resoluções que chegarem agora. Isso não seria um trabalho no mínimo hercúleo demais pra qualquer um?!
Vejam sobre uma simples palavra; “burro”. Segundo o dicionário, sua etimologia (estudo da história das palavras) demonstra que ela tem vem do Latim (língua morta da civilização romana) que deriva da diminuição do antigo termo “burrichus”.
Eessa civilização foi fundada no ano 753 antes de Cristo e se somarmos aos 2.015 anos atuais, chegamos em 2.768 anos de uso dessa palavra que atravessou a idade antiga, média, moderna e contemporânea. Mas agora em um embate de pouco tempo (mesmo que fossem décadas), vem ongs, associações, grupos sociais e/ou políticos, deputados, professores disso ou daquilo e querem expropriar termos constantes do arcabouço cultural e linguístico humano.
Aí saem aquelas conclusões homéricas, do tipo: Não se poderia mais dizer “burro”, agora o termo politicamente correto seria “portador de deficiência cognitiva”. Meu Deus! Em uma simples canetada se regulamenta uma norma que joga fora um patrimônio cultural de quase 3 milênios! Isso não seria burro de fazer?! (risos)
A língua é patrimônio da humanidade, de um povo, das pessoas que a falam, que a usam no dia-a-dia para viver as suas vidas e não de um grupo ou de um governo. A cultura não pode ser construída por decreto! Tanto uma quanto a outra são dinâmicas e construídas pouco a pouco, com a sedimentação de costumes, de descobertas, com a assimilação ou a descontinuidade de tradições, mesclando-se com outras culturas e línguas também. Observe que esse fenômeno complexo e multidisciplinar que acontece ao longo do tempo não pode ser substituído por um punhado de simples decretos! Não é?!
Por exemplo: O nome “favela” virou “comunidade” e não chegaram melhores condições de vida para aquelas pessoas. Os “pobres” viraram “classe média” e nenhum centavo a mais lhes foi passado. Os “deficientes físicos” viraram “portadores de necessidades especiais” e também não lhes facilitaram quase nada.
Hoje assisti a uma entrevista muito boa que o cineasta José Padilha deu para a Revista Trip, www.facebook.com/revistatrip/videos/10153036609716238, onde ele solta uma frase muito apropriada para esse contexto: “O Brasil perdeu a sensibilidade para o absurdo!”
E esse universo absurdo da patrulha ideológica do íntimo das pessoas, faz com que vivamos numa época onde o “politicamente correto” intensifica conflitos ao invés de atenuá-los! Esse efeito reverso é danoso e muito perigoso, principalmente quando culmina na instituição de leis que podem incidir de forma linguística e no âmbito da semântica. Aí complica, não é?!
Bom, vou encerrar meu “mimimi” e findo desejando a todos mais um ótimo, divertido e revigorante final de semana, desta vez ao som do show que faremos nesse sábado com as participações especiais de Fábio Laguna e de Flávio Landau! Segue link para informações: www.facebook.com/events/1597451500504115
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