Sempre acompanho as notícias pela imprensa e apesar de ter alguns bons álbuns para resenhar, mais uma vez as manchetes sobre assuntos estruturais do país são tão implacáveis que não permitiram tanger uma pauta mais amena, sonora e agradável.
Contudo, ao fim do dia de ontem (na 5ª feira, 29/01, quando da redação deste texto) surgiu uma chamada (no UOL) mais impressionante do que os frequentes e bilionários desmazelos praticados pelo governo brasileiro. Ela informava que uma catadora de lixo da cidade de Barretos/SP – Ana Maurícia, de 23 anos – havia achado e devolvido, ao Hospital do Câncer daquela cidade, inúmeros cheques que somavam R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).
A matéria também informou que o salário de Ana era de R$ 850,00 (oitocentos e cinquenta reais) e que devido à sua atitude, o hospital deve contratá-la em uma função melhor remunerada. Mas esse não foi o único rompante de honestidade dela! Ana relata que há alguns anos encontrou uma máquina sob uma pilha de papelão e que ao devolver para o gerente, de uma loja que ela não mencionou, ele disse que tal equipamento valia cerca de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
A saber: Ana Maurícia é casada com um presidiário, detido há 2 anos, tem um filho de 3 anos, mora na casa dos pais, é a responsável pelo sustento de toda a família e disse o seguinte sobre as duas devoluções: “Fomos criados assim, uma vida simples, mas com honestidade”.
Agora vejamos o contraste:
Enquanto uma pessoa da base da pirâmide social adota esses louváveis tipos de procedimentos e esboça uma consciência impecável quanto à ética, a Petrobras publica um balancete sobre o 3º trimestre de 2014 que apresenta um prejuízo de mais de R$ 89.000.000.000,00 (oitenta e nove bilhões de reais) referentes aos desvios e supervalorizações de preços, ou seja; corrupção! Tal informação ainda ocasionou uma queda de mais de 11% no valor da empresa, o que fez despencar seu valor em outros R$ 14.000.000.000,00 (quatorze bilhões de reais).
No mesmo dia em que tal relatório foi exposto (na 4ª feira, 28/01) a presidente Dilma Rousseff seguiu viagem para a Costa Rica onde participa da III Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Em seu discurso, o mais esperado da conferência devido a avaliação de que o Brasil seria o país que melhor promoveu a inclusão social da população mais pobre, a presidente agradeceu a Cuba pela importante parceria onde eles estariam ajudando a fornecer cuidados médicos à cerca de 50 milhões de brasileiros.
Outras falas que chamaram a atenção é a de que o número de pessoal com “insegurança alimentar” (novo termo para “fome”) tende a zero, a presidente também disse que aqui não há mais “insegurança hídrica” (novo termo para falta d’água) e finalizou criticando os USA por manterem o embargo econômico aplicado à Cuba (o que já dura 52 anos).
Eu não sei se o número de famintos realmente tende a zero, visto que sempre recebo a visita de “pessoas em condições de vulnerabilidade” (novo termo para “pedinte”), o que usualmente acolhemos e damos um prato de comida. Será que a presidente computa nossas ações em seus macroscópicos dados estatísticos?!
Sobre o acesso pleno à água, eu não sei mais se estou ficando maluco, mas tenho visto (e com muita frequência), notícias e mais notícias sobre a pior seca jamais atravessada pelo país. Estou surtando ou a imprensa toda está surtando, ou a presidente está surtando?!
Sobre o embargo econômico de Cuba; nesse ponto concordo com a presidente, porque com o seu ingresso ao mercado produtivo, o Brasil poderia cuidar mais de seu próprio povo (jamais deixando a boa prática das relações internacionais), mas é fundamental que atendamos em primeiro lugar as nossas demandas e saldemos nossos déficits que são numerosas em todas as áreas (saúde, educação, habitação, infra estrutura, segurança, transporte, política, cultura e economia). Não é?!
Uma coisa que me espantou nas informações apresentadas pela presidente é que Cuba auxilia no atendimento médico de 50 milhões de pessoas… Diante do exposto, levantei que há 14.462 médicos cubanos contratados pelo programa “Mais Médicos” cuja fonte é uma matéria da Revista Veja, publicada em 25/08/2014. Essa quantidade de profissionais seria suficiente? Porque a imprensa noticia diariamente as dificuldades do sistema de saúde brasileiro? Que diabos está acontecendo então?
O que parece ficar evidente é que há uma completa diferenciação no modo de agir e na conduta ética da classe dominante, dos valores bilionários e estratosféricos e, do cidadão trabalhador da base da pirâmide social do país. Outra evidência é o fato de que uma casta parece querer sangrar o país até o fim, enquanto que “as formiguinhas” tampam suas feridas com seus trabalhos pesados e incansáveis do dia-a-dia…
Que isso possa (de alguma forma) inspirar alguém a fazer alguma coisa de bom!
Novamente desejo a todos um ótimo, revigorante, musical e divertido final de semana, talvez até um pouco ébrio pra esquecer toda essa palhaçada pela qual estamos passando!
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