Sete vezes pior que o esperado…

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Há crenças que caem por terra por conta de coisas que não deveriam cair “na terra”.

Nunca antes na história desse país eu havia duvidado de que os viadutos fossem sólidos e confiáveis, tendo sempre transitado, por cima ou por baixo deles, sem o medo de que pudessem cair sobre ou com os carros em cima.

O fato é que não temos terremotos, furacões, nem tsunamis, mas temos muita, muita incompetência com uma obra que deveria funcionar por muito tempo em benefício das pessoas, ao invés de esmagá-las.

Ainda ontem assisti a um documentário que expunha sobre a construção da ferrovia chinesa que vai até Lhasa (no Tibet) e uma parte do filme era dedicada aos cuidados médicos que os trabalhadores precisavam para não padecerem com as doenças típicas da altitude (por conta da estarem trabalhando há mais de 4 mil metros de altura, sobre o nível do mar, nas cordilheiras do Himalaia).

O médico chinês que chefiou o departamento de saúde dessa obra disse orgulhoso: “Terminamos a obra e não perdemos nenhuma vida”. Em contrapartida, aqui no Brasil se perde vidas durante e depois das obas: Visto os acidentes nas arenas do Palmeiras e do Corinthians, esta última que não ficou pronta e que nessa 4ª feira inundou os torcedores com a tão desejada chuva (pela falta d’água), em função da cobertura que não foi completada.

Outra questão que remete ao que se deve crer é sobre o sofrimento e choro das crianças diante da perda acachapante (nunca tinha ouvido essa palavra antes desse episódio) da seleção brasileira. Maurício de Souza, o famoso autor da Turma da Mônica, disse que não tinha gostado nada de ver seus netos em pranto por conta disso.

Agora lhes pergunto: Quantas dezenas de milhões de crianças temos no Brasil e quantas delas veem (ou viam) a carreira de jogador de futebol como seu grande sonho? E se a seleção brasileira ganhasse, será que esse desejo não seria reforçado? Vejamos: Só existem 23 vagas para jogador da seleção e ainda a cada 4 anos… Ou seja: O que é pior, uma pequena injeção de realidade ou o incentivo a um sonho que 99,9999% da população não iria mesmo realizar? O que é mais cruel?

Vejam outro disparate que observei: Quando a mídia noticiava os jogos da seleção (antes da derrota), eles diziam: “O Brasil segue na Copa do Mundo!” e o Galvão Bueno (narrador da Rede Globo) chegou a chamar imagens das ruas e avenidas vazias por todo o país, mostrando a adesão que o povo brasileiro havia tido com a seleção. Logo após a homérica derrota por 7X1 para a Alemanha, o discurso havia mudado! Não era mais o Brasil que estava em campo e que tinha perdido aquele jogo era somente um time de futebol, a seleção brasileira. Por que é o Brasil quando ganha e a seleção brasileira quando perde? Não creio no acaso e vejo aí uma estratégia de comunicação para desonerar o governo do ônus da derrota.

Outra pergunta: O que se ganha quando o Brasil (ou a seleção brasileira) ganha os jogos? Eu ganhei um sorriso no rosto e uma ressaca no dia seguinte (risos) e creio que seja esse o caso da maioria das pessoas. E se ganhasse a Copa do Mundo? Acho que então seriam 8 sorrisos, 8 ressacas e o orgulho da conquista de uma coisa da qual não teríamos acesso…

O futebol não me representa e nenhum jogador nunca me representou. Francamente, me surpreendo com a importância que esse esporte tem para a maioria das pessoas de nosso país e o quanto essa “paixão nacional” é utilizada por governantes e por todo uma indústria inescrupulosa para faturar bilhões e bilhões de dólares. Por falar em dinheiro, estou na expectativa de ver o que o governo falará quanto ao balanço da “Copa das Copas”, afinal foi realizado um enorme esforço para construir todas as arenas e um investimento faraônico para obtivéssemos os benefícios de uma infraestrutura que não saiu…

Uma das publicações (em função da perda da seleção) mais interessantes que vi pela Internet enumerava a quantidade de prêmios Nobel que a Alemanha tem e perguntava se humilhante era perder de 7X1 no futebol, enquanto nessa premiação o Brasil perde de 102 a zero para os alemães. É claro que os ganhadores do Nobel não jogam bola e não podem nos ajudar no jogo, mas basta comparar os dois países para visualizar a diferença que esses cientistas, artistas, intelectuais e humanistas fazem para a evolução de sua nação.

Penso que um dos problemas mais importantes que atravessamos seja o do despovoado imaginário dos jovens e das crianças desprivilegiadas de forma social e cultural, cuja grande maior parte almeja apenas o seguinte: Se tornar patrão do tráfico, “artista” (somente na acepção da fama) ou jogador de bola… E garanto que nenhum desses ofícios vai contribuir positivamente para com o nosso país! Portanto, se quisermos cuidar do nosso futuro, temos de cuidar dessas crianças!

Então ficam as perguntas que não querem calar: Será que nosso problema é resolver o futebol? Será que vamos perder no campo e nas urnas?

Novamente desejo a todos um ótimo, divertido e revigorante final de semana!

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