Chamada a Cobrar…

chamada a cobrar - 03

Assisto aos noticiários e fico atento ao que não está sendo dito.

Parece haver um véu de amenidades (apesar de toda a constante violência noticiada) que paira sobre questões mais profundas, imprescindíveis e urgentes.

Enquanto as bundas desnudadas, os carros e adereços de luxo desfilam pelas propagandas e com as “celebridades”, os desejos das pessoas são direcionados e as conduzem a objetivos fúteis em direção à ostentação. No entanto, “alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga com a Avenida São João” e bem nesse cruzamento, que fica no centro da cidade de São Paulo, a prosperidade retratada (há algumas décadas) na letra de João Gilberto deu lugar à cracolândia.

Sim, os “cracudos” (novo termo para qualificar os viciados em crack) estão naquelas imediações, ao lado da Secretaria de Estado da Cultura (que fica na estação Júlio Prestes), ou seja; não dá para dizer que os governos desconhecem tal realidade.

Mas a tônica não é a “disponibilidade” e sim a “indisponibilidade”!

Observem: A nação com a maior bacia hidrográfica do mundo (o Brasil) está penando pela falta d’água, o que seria irônico se não fosse trágico… E alerto que a escassez de recursos naturais é o maior e mais frequente motivo de guerras na história da humanidade!

Vejo um quadro muito preocupante em relação à grande São Paulo, que é a maior concentração demográfica do país, onde as represas estão com menos de 10% de seu volume total e diante te disso, assisto a pronunciamentos evidenciando que literalmente estão contando com o ovo no c… da galinha, ao esperar que São Pedro seja parte integrante das expectativas governamentais. Infelizmente não dá para protocolar uma solicitação de chuva, ao céu…

Por esse motivo (e diversos outros) as pessoas estão atendo fogo em ônibus e queimando pneus nas estradas, o que são demonstrações de uma revolta desorientada que penaliza cidadãos, ao invés de irem às portas dos órgãos públicos, que são os responsáveis pelo planejamento e execução de projetos que garantam acesso aos recursos naturais à população.

O povo está profundamente descontente e revoltado, o que está explodindo em milhares de episódios de violência e agressividade (em geral) contra a própria população. Sim, as pessoas estão se digladiando nas ruas e assumindo papeis que o governo deixou em aberto. A justiça popular vem derramando óleo e sangue no asfalto e, apesar da euforia violenta dos protagonistas desses casos, o maior responsável por todo esse caos é o próprio estado (governo), que há muito não cumpre com suas atribuições e funções, abrindo precedentes para que tudo isso aconteça.

Para ilustrar: Em Araras (cidade do interior do Estado de São Paulo, onde moro), houve o linchamento de dois homens e uma mulher, dentro da Câmara Municipal em 1984, devido a terem assassinado de um senhor que trabalhava como motorista de taxi. Inúmeras vezes presenciei quem falasse com orgulho sobre esse fato, visto a tranquilidade que se instalou nesse município nos anos seguintes. Por outro lado, nesses dias vimos o caso torpe do linchamento equivocado de uma mulher por conta da identificação errada numa rede social da Internet, o que é profundamente lamentável e evidencia o que pode acontecer quando se assume o risco de fazer justiça com as próprias mãos.

O custo da alimentação vem aumento, a falta de moradia faz aparecer favelas com milhares de pessoas em questão de dias, a ineficiência da Petrobrás na extração de petróleo do famigerado “pré sal” (além de todos os escândalos e desfalques “bilionários”), a falta de chuva na bacia leiteira de Minas Gerais e nas lavouras de cana-de-açúcar (prejudicando a produção de álcool), os apagões elétricos, a telefonia que não funciona direito, o trânsito congestionado nos grandes centros e o alto custo do deslocamento, a carga tributária que o brasileiro paga a todo instante, o déficit  habitacional, o desemprego, a alta da inflação, as péssimas qualidade da educação, saúde e segurança, a censura e patrulha ideológica e, as prioridades ardilosamente errôneas do governo brasileiro (pão e circo ao invés de estrutura, educação e crescimento) se somam à dita falta d’água e abalam todos pilares centrais de uma nação que deveria ser livre e próspera.

A quantidade de bocas a se alimentar aumentou muito (mais de 7 bilhões de pessoas no mundo), mas o nossa horta (o planeta Terra) continua do mesmo tamanho e, o pior, agora está bem mais devastado pelas suscetíveis ações irresponsáveis (meramente extrativistas), vindas do próprio ser humano. Para ter uma ideia, parte do solo de Manaus está afundando devido às décadas do uso indiscriminado de água do lençol freático. Parece que a natureza sempre cobra seu preço.

Creio que chegamos à beira de vivenciar momentos realmente trágicos, que poderão envolver muita gente… Tragédias coletivas com muita gente mesmo! E isso me preocupa demais, porque acredito que ainda exista tempo para dar um revés histórico nessa direção.

Tudo isso está parecendo muito assemelhado à uma ligação a cobrar, que se faz sem grande compromisso e responsabilidade, mas que alguém inexoravelmente vai ter de pagar a conta… Cada um de nós é um pouco responsável por tudo e os resultados que vamos colher estão em nossas mãos. Não dá mais pra nos omitir.

Que todos tenhamos um ótimo, revigorante, divertido, muito musical e “consciente” final de semana.

Veja a imagem da página pulicada – JPG:

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