O problema da arte não é artístico!

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Em direção ao entendimento da crise artística e cultural que o Brasil atravessa, estive pesquisando muito e conversando com alguns profissionais da área, sobretudo os ligados à música. Perante as centenas de fatos, avaliações e argumentos, parece ter brotado uma alternativa plausível para o que vivenciamos: O problema das artes não é artístico!

Com toda a revolução industrial e posteriormente a tecnológica, nunca se teve tantas ferramentas e recursos disponíveis. Frutos desses desenvolvimentos, os meios de comunicação também nunca tiveram tamanha tecnologia, potencial e os canais de televisão HD já são comuns, tornando visíveis detalhes além do que os olhos despidos possibilitam.

Da mesma forma, os aparelhos de som (na grande maior parte os home theater), oferecem sensações auditivas em uma ampla gama de frequências (de graves profundos a agudos penetrantes), levando as experiências até os limites da espacialidade, dado aos sistemas do tipo surround com 5.1 ou 7.1 canais.

Conjuntamente estão os computadores, notebooks, tablets e celulares (estes últimos que representam o ápice da tecnologia). Todos aparelhos com múltiplas funções, como: acesso à Internet, e-mails, envio e recebimento de mensagens e chats, receptores de rádio e TV, agenda, calculadora, câmeras fotográficas, capacidade para gravar e reproduzir som e vídeo e, é claro a telefonia também (apesar de ser o recurso menos importante). Para os aparelhos com sistema Android e IOS (tablets e celulares mais comuns), também existe uma gama enorme de aplicativos para desenho, edição de imagens, fotos e para música.

Eu mesmo tenho um afinador de violão, guitarra e baixo, mais um metrônomo e o gravador de voz que uso para registrar minhas ideias (tudo no celular), mas esses são os aplicativos mais básicos e hoje há até pedais de guitarra, sequenciadores de bandas inteiras, sintetizadores, softwares de DJ e sistemas para automação de mesas de som e iluminação digitais. Estes recursos mais complexos são predominantes nos aparelhos da Apple.

Na parte física e industrial do mundo artístico despontam países asiáticos como a China, Coreia, Taiwan e Hong Kong que fabricam qualquer tipo de instrumento musical, com qualidades bastante diversas. Tem fábricas de alto gabarito que levaram suas linhas de produção para lá e produzem instrumentos musicais de alto nível, assim como há marcas menos tradicionais e com políticas de produção de larga escala, que oferecem instrumentos a valores irrisórios. Tem guitarras novas que são vendidas em 10 parcelas de quinze reais (mais barato que alguns pares de tênis). Vale salientar que esses instrumentos não são tão precários como possa aparentar e muitos deles são bem melhores do que os que tive no início da carreira.

Some a todos esses recursos uma população que supera os 200 milhões de habitantes e veja o potencial humano que se tem para produzir e consumir arte no Brasil. Sim, é uma indústria macroscópica, bilionária e com francas e concretas possibilidades de crescimento!

Sobre o argumento de que a maior parte da população não teria acesso a adquirir esses equipamentos e recursos, é notória a ascensão da classe “c” e vê-se o grau de endividamento e o consumo de eletrodomésticos e vestimentas de seus indivíduos. O que expressa um despreparo ao planejar e elencar as prioridades de suas despesas, mas determina o acesso ao consumo.

Outro ponto favorável às artes, são as milhares de escolas de música, os milhões de sites (gratuitos) com letras, cifras, tablaturas e partituras de canções e as centenas de milhares de vídeos explicativos que ensinam as técnicas para se tocar instrumentos diversos. Toda a parte de Internet, geralmente, com acesso gratuito.

Há redes sociais específicas para vídeos (Youtube e Vimeo), assim como há outras apropriadas para música (SoundCloud e MixCloud) e, nas redes sociais abertas (Facebook, Twitter e Google +) não faltam posts e convites para eventos, lançamentos, shows e para votações em concursos disso, ou daquilo. São tantos que já viraram span, passaram a incomodar os usuários e agora tendem ao descrédito.

Vejo alunos de música adiantados e com progresso muito rápido e há anos (por volta de 14 deles) escrevo sobre música, arte e cultura, sempre pretendendo oferecer alternativas de qualidade em lançamentos musicais de artistas brasileiros e, já tendo publicado aproximadamente 400 artigos, creio ter pautado ao menos uns 300 trabalhos diferentes.

Agora vejam: Desses todos, apenas um ou outro tocam nas maiores rádios e freqüentam os mais populares programas de TV. Os demais comparecem esporadicamente em programas com maior relevância cultural e de melhor qualidade editorial como o do Jô Soares, da Marília Gabriela, do Serginho Groisman, Danilo Gentilli, Antonio Abujamra, Ronnie Von, Fabrício Carpinejar e agora o do Rafinha Bastos, todos oferecendo pautas mais densas, profundas e selecionadas (graças a Deus), mas sem uma maior penetração popular, na base da pirâmide sociocultural, justamente onde está a maior parte das pessoas e onde essa arte mais acurada é mais necessária e seria mais transformadora.

Diante de tudo o que foi avaliado e tendo ciência de que a boa arte e cultura são produzidas diariamente e, não nos faltam: Apenas se conclui que é uma questão de acertar o alvo, de chegar e alcançar o povo, porque já vi o fenômeno da boa música abarcar as pessoas na praça pública, rendê-las e encantá-las com sua qualidade, mesmo tendo sido inicialmente desconhecida para quase todos os presentes.

Sim, eu acredito na arte, apenas não acredito na falta de mira dos veículos da grande mídia brasileira. Para mim, há quem não queira que essa produção mais qualitativa chegue ao povo… Não sei o porquê, mas há quem não queira a melhora e precisamos lutar contra isso, porque está tudo aí, aqui, agora…

Novamente desejo a todos um ótimo, divertido, revigorante e muito musical final de semana!

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