Faz tempo que venho percebendo que as artes estão sendo confundidas com a mera diversão e, por esses dias, fiquei alarmado por conta de uma conversa sobre o que identificaria um artista (um músico, mais especificamente) que tive com um adolescente de 15 anos.
Para quem tem mais idade e/ou teve contato com nomes como John Lennon, U2, Bob Dylan, Queen, Elis Regina, Cazuza, Lobão, Chico Buarque, Zé Ramalho, Raul Seixas, Alceu Valença, Titãs, Ultraje a Rigor, Led Zeppelin, Midnight Oil, Pink Floyd, Ira!, Cássia Eller e uma infinidade de outras bandas e artistas; é fácil entender que a arte é uma expressão estética de diversos fatores e pode tratar de inúmeros assuntos.
No universo amplo dos artistas “de verdade” figura uma gama enorme de temas. Desde as modinhas atuais como relacionamentos, diversão e as festas, como também estão presentes o humor, a tristeza, política, sociedade, família, preconceito, cultura, religião, quotidiano, amizade, humanidade, beleza, feiura, desejo, vida, morte, guerra, violência, ciência, perdas, transformações, envelhecimento, juventude, valores, a revolta e é claro; o amor (no seu sentido mais profundo). Pode-se falar de qualquer coisa… De tudo!
Ocorre que essa geração de adolescentes só conhece a arte como meio de diversão e isso é preocupante porque há uma diminuição imensa dos assuntos dos quais a arte passou a tratar e também uma redução drástica das formas estéticas pelas quais as manifestações artísticas podem acontecer.
É simples: Basta excluir todos os assuntos do mundo e ficar apenas com as festas e o sexo, descartando também todos os ritmos musicais que a humanidade já inventou para ficar apenas com os das “batidas” mais animadas e festivas.
O resultado desse ato de “jogar tudo fora” é o profundo empobrecimento artístico e cultural de uma geração inteira, que por não ter acesso a uma produção melhor elaborada, sequer é capaz de reconhecer a amplitude que a arte pode ter e pior; apenas reconhece o artista pela sua beleza, extravagância e papel de palhaço para entreter plateias intelectualmente despreparadas. Trágico! Aqui não me refiro aos atores, comediantes e palhaços circenses… Que são verdadeiros artistas também!
O fato é que o artista não é só animador de festa e nem a arte é mero entretenimento ou diversão! O ofício do artista simplesmente foi responsável por momentos de superlativa grandeza na história da humanidade, como por exemplo no “renascimento” que fez terminar a idade média, na qual o homem vivia na mais completa ignorância, barbárie, doença, fome, violência e foi tida como um dos piores momentos da história, também chamada como “a idade das trevas”.
Toda sociedade evoluída tem uma produção artística equivalentemente avançada e é fundamental que não deixemos que uma imensa população compradora, recém-ingressada no mercado de consumo, faça com que “toda” a linguagem e conteúdo das mídias (escrita, falada, televisiva, cinematográfica e da internet) caiam de nível, ocasionando imenso decréscimo da qualidade das artes que estes veículos de comunicação utilizam na sua composição.
Hoje nivelamos a arte e a cultura brasileiras “por baixo” e o desdobramento disso é praticamente a ignorância de um povo inteiro, que não tem sequer a oportunidade de escolher o que consumir (artisticamente falando) porque desconhece o universo das opções que se pode ter.
É bem simples de entender e aqui vai um exercício para provar: Sem auxílio nenhum, fale imediatamente uma palavra que você “não conhece”! Não dá, né?! É porque não se pode falar ou fazer alguma coisa que não se conhece e que não se aprendeu e, é por isso que um povo que vive num universo minúsculo de pensamentos e informações não vai avançar… Porque não têm como! A não ser que todos fossem gênios como Leonardo Da Vinci, Isaac Newton, Mozart, Darwin, Albert Einstein e outras raríssimas exceções onde pudéssemos extrair informações e teorias verdadeiras, conclusivas e fidedignas da mera observação das coisas. Aí fica difícil, não é?!
Arte é o produto refinado da educação e da cultura, desta forma basta assistir e ouvir as maiores emissoras de TV e de rádio para facilmente verificar que o Brasil está repleto de lixo, sem criatividade, pessimamente elaborado e compulsivamente focado na bebida e própria genitália… E isso não é um discurso moralista, nem reacionário!
Diante desse texto argumentativo, gostaria apenas de provocar o questionamento para que possamos fazer melhores escolhas sobre o que consumimos, sobretudo com aquilo que vamos colocar dentro das nossas cabeças e das de nossas crianças e jovens! Ou seja: Cuidado para não comprar gato, por lebre e virar uma mula! Zoologicamente falando… (risos)
Prestem atenção a quem estamos dando voz e depositando a construção da cultura e da arte de nosso país!
Mais uma vez findo por desejar a todos um ótimo, divertido, revigorante e muito musical final de semana!
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