Há pessoas que supõem que a força motriz do mundo e da humanidade seja o dinheiro, outras podem achar que é a vontade do homem e; dentro da gama dos anseios podem estar inúmeros fatores motivacionais, como: Amor, dor, ganância, avareza, bondade, egoísmo, altruísmo e por aí afora…
O fato é que independente do sistema financeiro (dinheiro), a riqueza e a pobreza sempre existiram; seja ela material ou espiritual. Junto a títulos de nobreza, terras, exércitos, conquistas e derrotas, ou mesmo com a cínica, rica e voluntária opção pessoal do despojo dos próprios bens…
Nesse sentido, ou sem o menor sentido, sinto muito em ver a crítica musical se despojar do popularesco e partir para o diminuto universo das músicas mais intelectualizadas. Ou seja: Ninguém fala dos artistas mais famosos e por vezes criticam vorazmente músicos e compositores que pleiteiam uma produção melhor, desconsiderando os fanfarrões animadores das festas musicadas.
Bom: Se nos utilizarmos da simples noção da teoria dos conjuntos, rapidamente podemos perceber que esses tais artistas popularescos dominam quase todo o dinheiro que o mercado do show business movimenta. Ou seja: Eles fazem uma música à lá academia de aeróbica (agacha, mão pra cima, levanta, pra lá, pra cá, pula, tira o pé do chão…), faturam praticamente “todo” o dinheiro do mercado de shows, desfrutam de exposição em “todos” os grandes veículos de mídia e imprensa e ainda escapam ilesos da crítica musical especializada, porque esta não os considera dignos de pautá-los, visto sua música ser menos musical do que um simples entretenimento.
Simplificando: Os caras estão com a faca e o queijo nas mãos e isso ainda lhes é servido à mesa com azeite de oliva tipo extra virgem, pão italiano e vinho francês!
Para quem não é do ramo musical, vou fazer uma breve descrição dos valores dos shows:
Músicos que tocam voz e violão em restaurantes têm faixas de cachê entre R$ 100,00 e R$ 400,00. Bandas que tocam em barezinhos giram em torno dos R$ 350,00 e 1.000,00. Bandas que tocam em bares e pubs (casas de shows) costumam receber cachês entre R$ 800,00 e 3.000,00. Nesse ponto há um pulo onde o mercado quotidiano dá lugar aos mercados corporativos, esporádicos e institucionais, que se consistem (seguindo a ordem) em contratações para eventos de grandes empresas, festas de famílias abastadas (em geral, casamentos) e contratações por entidades como SESI, SESC e projetos apoiados por Leis de Incentivo à Cultura. Esses três nichos de contratações têm cachês que giram em torno de R$ 5.000,00 a R$ 35.000,00 e já recolhem nomes com fama nacional, com músicas consagradas.
Pode parecer que já alcançamos os valores mais altos, mas ao compararmos tais cachês com os dos astros sertanejos, emergentes fanqueiros cariocas, famosos pagodeiros e aos das estrelas do axé, veremos que não chegam a 10% de seus cachês.
É exatamente isso! Para um músico que toca num restaurante passar ao cachê de uma banda que atua no mercado corporativo e institucional ele precisará multiplicar o valor de seu show por 35 vezes. E esses bandas que tocam em SESCs e SESIS vão precisar multiplicar seus valores por 10 vezes para atingir os cachês mais baratos (R$ 350.000,00) das famosas estrelas das músicas mais popularescas. Vale salientar que algumas dessas luminosidades passam de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
Há quem diga que o artista vale a quantidade de público leva para os shows. Então joguem fora os seus quadros de Van Gogh, porque ele só vendeu um único em vida e deve ser uma porcaria segundo o público…
Facilmente se vê o quanto está confuso o mercado musical (este do qual eu vivo) e o quanto a crítica especializada por vezes foca só na música e até já deixou de dar atenção ao amplo mercado musical, de tão deturpado que está.
O que fazer?! Estou aceitando sugestões… (risos)
Novamente findo por desejar a todos um ótimo, divertido, revigorante e muito musical final de semana!
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1 comentário
Legal o artigo Nando e se vê que o que menos importa nesses casos é a música, mas sim a obtenção de lucro e o entretenimento multimídia ligado em um esquema de rede para obtenção de lucro: propaganda, marketing, logística, aspectos legislativos, industria da moda, submundo do crime (sonegação, lavagem de dinheiro, trafico internacional, arcaísmo cultural, etc) que acaba criando a ilusão de que a música é o produto a ser consumido, quando na real ela é horrivelmente mascara do consumo impossível de se frear da massa proletária que precisa devolver seu capital para quem pagou sua força de trabalho – cria um ciclo vicioso…
Quanto aos SESC e PUBs etc, o foda é a falta de coerência nos contratos e de capacidade dos artistas para se defenderem, defender sua classe e seus direitos (coisa que a OMB deveria fazer) ao assinar essa relação de trabalho, esse contrato no preto e no branco – Gostei do que você trouxe aí pra discussão e gostaria de colocar alguns pontos também, espero que não tenha ofendido nem ultrapassado demais o limite da tua paciência…
Sucesso com as tuas músicas…