Você prefere redondilha maior ou menor? Versos rimados ou livres?
Pode parecer papo furado, inusual, um pouco rebuscado e até saudosista, mas até pouco tempo atrás se tinha uma preocupação com a língua portuguesa, a estética e o conteúdo quando o assunto era composição.
Depois do advento do funk carioca (que poderia ter recebido outro nome para não se confundir com o gênero americano, original da década de 1970) passou a se aceitar qualquer coisa como letra. Sempre brinco com os críticos musicais, músicos, professores de português e de outras disciplinas das humanas e, em algumas palestras realizadas; propondo para que façam a “análise morfológica” da letra da música “Créu”. Pois é, além desta palavra não constar no dicionário e de ser uma onomatopeia com o sentido de uma interjeição de intensidade; essa popular “poesia” possui apenas uma única palavra, tanto em sua letra quanto em seu título!
Mas quem tomou um “créu”, foi a língua portuguesa e a mentalidade expressa nas canções que passaram a perambular pelos vãos das pernas das dançarinas turbinadas…
A música erudita, o blues, samba, choro, MPB, jazz, soul, r&b e o rock (palavra que hoje passou a representar apenas o subgênero do “metal”) ficaram guardadas nos corações dos que se apaixonaram por elas antes de sumirem da grande mídia e hoje são passadas de geração em geração no ceio íntimo da família de cada um. Ou seja: O filho de um roqueiro ouvirá rock em sua casa e provavelmente dará continuidade à manutenção do estilo pessoalmente. O mesmo ocorre com a música erudita, o blues, samba, choro, MPB, jazz, soul e r&b. Para ter uma ideia, é muito comum encontrar gerações de famílias em shows de expoentes desses gêneros musicais.
Mas o pior ainda estava por vir: Quando pensávamos que era o fim do poço, veio o sertanejo universitário e com todo o seu know-how acadêmico extraiu a única palavra que as poéticas letras das músicas ainda tinham e a substituíram por simples grunhidos! Tchu, tcha, lê, lê, lê, lá, lá, lá e o escambau a quatro… Tem coisas que realmente precisam de um nível de expertise para se conquistar: Parabéns ao sertanejo universitário!
Obs: Falar bobagem é uma coisa, mas não falar nada é outra! E isso é de f… (“ferrar” – risos)
Mas calma, a reação não tardava e veio eleita pela mídia musical “especializada”, sob a forma do estilo “Indie”, repleto de melodias choradas, cantadas por vozes enrouquecidas (normalmente pouco afinadas) pelo álcool, tabaco e cânhamo, trazendo letras “cabeça” para a degustação dos “intelectualoides” de plantão.
O termo “intelectualóide” é uma forma carinhosa usada para destacar alguns usuários de camisetas do “Che”, que deixam a barba por fazer, o cabelo despenteado, trajam-se como hippies e andam em carros novos, vivendo uma filosofia cínica (os cínicos eram os filósofos pregavam a volta à vida em estrita conformidade com a natureza) no verbo, enquanto normalmente desfrutam dos confortos da modernidade, bancados pelos pais.
Obviamente que o esboço dessa frondosa reação foi um enfraquecimento ainda maior da música “boa”, até porque (com parcas exceções) a música desse gênero não é boa mesmo… Assim como os ideais vigentes de beleza, linguagem e sonoridade também não têm nenhuma relação com os expoentes desse estilo.
Creio que estejamos reféns de uma mídia macroscópica onde há o império da estética e da pobreza de conteúdo e de uma mídia secundária (dita especializada) que reage a isso oferecendo o extremo oposto e só perde força em sua audiência e patrocinadores. Lamentável…
Mas onde estão as músicas realmente boas? Encontram-se na Internet, rádios e televisões culturais e educativas, em revistas especializadas de música, em boas casas de shows e festivais e, em certas regiões do país que costumam não se conectar com os grandes centros. Ou seja, tem que procurar para achar, mas lhes garanto que vale o trabalho, pois àquele que vê a luz não se contenta mais com a escuridão!
Sei o que a música boa faz: Ela pega as pessoas que nunca tiveram contato consigo e às arrebatam. Entra em seus poros, toma seus corpos com a dança, pulsa em seus corações contagia, mesmo que esse(a) ou aquele(a) jamais tenha tido contato com um determinado artista, instrumento ou canção. Estou falando de talento, de dom, de energia pura e isso; não há como se produzir em laboratório!
Que tenhamos um ótimo, divertido e revigorante final de semana (prolongado para muitos), repleto de brindes felizes, regados à música boa de verdade!
Veja a imagem da página publicada – JPG:
.