Outro dia li que o rock não era mais a forma de extravaso e de expressão da juventude, o que me alarmou porque na minha época de moleque ele ainda era e até o momento dessa descoberta (leitura), eu nunca havia imaginado que ele pudesse perder esse status.
Contudo, parece óbvio e bem fácil de visualizar que as letras do funk carioca, pagode e sertanejo estão muito mais presentes nas gargantas da juventude do que as do rock. Mesmo ao esquecer as letras e se tomar apenas a quantidade de público, certamente esses estilos são muito mais populares que o rock há décadas…
Tendo em vista o conteúdo, o RAP é que se tornou o porta-voz dos protestos, das denúncias, das esperanças e das observações do mundo e da sociedade em que vivemos. Desde a década de 1950 esse papel era do rock e antes dele sequer nascer, era do blues.
Conforme foi muitíssimo bem assinalado pelo ídolo e amigo “André Christovam” (o papa da guitarra e do blues brasileiro) durante uma conversa regada a cafezinho na Ofner em São Paulo: “O blues não vai virar mais nada se ele não se juntar com o RAP. Porque perdemos a crônica do dia-a-dia, o que o blues sempre fez de melhor. Éramos os contadores de histórias e agora tem outro… Ou a gente agrega, se adapta e faz um novo formato musical ou vamos viver num gueto musical isolado”.
Quem me acompanha sabe que os estilos musicais que mais amo são o rock e o blues, sobretudo o blues/rock (risos) e podem ter em mente o quanto é difícil escrever sobre essa áspera realidade que os aflige e fragiliza, sobretudo uma história que já aconteceu com o blues e que está prestes a se repetir com o rock.
Mas o que tudo isso tem a ver com o “Chorão”, líder inquestionável da banda “Charlie Brown Jr.” e que recentemente foi achado morto em seu apartamento na cidade de São Paulo?
Ele talvez tenha sido um dos únicos de sua geração a fazer e usar o rock como devia. Sequer faço menção à sonoridade de seu trabalho, mas saliento sua controversa atitude pessoal e a irreverência de suas letras. Não, definitivamente Chorão não era “bonzinho” e cá entre nós, quem é que gosta disso? Há até uma brincadeira popular que diz que as meninas sonham com o príncipe encantado, mas gostam mesmo é do lobo mau… (risos)
Nesse sentido e vestido com bermudões, camiseta regata, boné e skate em punho ele falava direto para a juventude das décadas de 1990, de 2000 e chegou a ganhar vários prêmios da MTV e dois respeitáveis Grammys Latinos como melhor álbum de rock brasileiro: Em 2005 com o disco “Tâmo aí na atividade” e em 2009 com o CD “Camisa 10 – Joga Bola até na Chuva”.
Ao todo foram 15 anos de carreira, 11 discos lançados e mais de 5 milhões de cópias vendidas. Como empresário, ele mantinha o “Chorão Skate Park” na cidade de Santo/SP, em 2009 fundou a marca DO.CE (ligada ao skate) e ajudou a viabilizar grandes eventos desse esporte no Brasil.
Uma de suas últimas aventuras artísticas foi pela sétima arte (o cinema), onde atuou como roteirista do filme “O magnata” em 2007 e recentemente do longa-metragem “O cobrador”, que ainda está em andamento.
Controverso? Sem dúvida, mas os números não mentem e não há argumento contra fatos! Gostando ou não, “Chorão” teve um importante papel na música brasileira e nesse ambiente “politicamente correto” em que vivemos hoje, era uma das poucas vozes que destoavam dessa massa domada conduzida às cegas… Como a música “Admirável Gado Novo” do célebre Zé Ramalho diz: “Êeeeeh! Oh! Oh! Vida de gado! Povo marcado, Êh! Povo feliz!”
Chega de política à lá picolé de chuchu, chega de roqueiros que na verdade fazem sertanejo com guitarras distorcidas, gritando “amor” duzentas vezes por refrão e chega da postura: “Você finge que me engana e eu finjo que acredito”. Se não, quem vai chorar é a gente!
“Chorão”, ao invés de lamentar a sua morte, vou te dar os parabéns pela sua vida: Viva!
Que tenhamos um ótimo, divertido, musical e revigorante final de semana!
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