Criolo e o seu “Nó na Orelha”!

Criolo_Daryan Dornelles_Cortada

Quem acompanha meus artigos, há tempos sabe que sou réu confesso quanto aos estilos musicais que mais gosto; no caso o rock, o blues e principalmente o blues/rock! (risos)

Mas também me reconheço cativo das letras da boa MPB, assim como dos versos incisivos de alguns autores e grupos de RAP que sempre abalroaram meus ouvidos com suas críticas sociais repletas de doses maciças da densa realidade das ruas.

Certamente se trata de um estilo urbano, ou melhor; suburbano. Mas apenas no sentido geográfico dessa palavra… Porque a poesia de muitos RAPs deixa longe os gritos exaltados e vazios do pseudo-amor, meramente sexual, do pagode e do sertanejo burgueses!

Vamos além, ele também deixa para trás o que hoje em dia se chama de rock. Pessoalmente lamento, porque a grande maioria desse bando de bandas compostas por adolescentes apaixonados e enfeitados só têm “personalidade” quanto ao visual e o ápice de suas rebeldias fica nas escolhas das cores dos cabelos, unhas e dos salões de beleza.

O rock, o sertanejo e o pagode atuais precisam de terapia! Perderam suas raízes quando saíram dos morros, das roças e das garagens! Mas o RAP continua lá na periferia, vivendo, experimentando e regurgitando sua realidade sob a forma de arte para o “centro” das metrópoles e invadindo várias praias midiáticas merecidamente!

Traduzindo: É gente de visão, observando o mundo e fazendo música sobre ele, olhando para o todo e não só para o próprio umbigo ou genitália… É artista, não celebridade… É poesia, não refrão… É música e não um mero produto enlatado e descartável, só para faturar… Enfim: É um exemplo para os demais estilos musicais!

Agora vai o porquê desse artigo: Trata-se do aclamado álbum “Nó na Orelha” de “Criolo”!

Um CD com download inteiramente gratuito em seu site (www.criolo.net) e que traz 10 músicas memoráveis que fundem diversos estilos musicais, arranjos e instrumentações ao ritmo e à poesia do RAP.

O resultado é um disco bastante coeso, ao mesmo tempo em que é diverso e, muito acessível apesar de suas densas letras. Ele realmente conseguiu unir o útil ao agradável!

“Criolo” chega a citar o poeta “Manuel Bandeira” numa de suas músicas, ao mesmo tempo em que usa gírias comuns ao banditismo e ao tráfico de drogas em outros momentos.

Noutra canção ele usa um dialeto africano com dizeres do candomblé como refrão – “Ogum adjo ê mariô” e também faz alusão às tragédias pessoais dos usuários de drogas, dos destinos infelizmente certos dos que se aventuram pelo tráfico, dos desejos de subir na vida de pessoas que tomam caminhos errados ou atalhos, mas que se condenam a nunca chegar lá dado a essas escolhas.

Com orgulho de sua cor, de seu cabelo e de seu nariz, com uma voz despretensiosa e leve, “Criolo” canta versos pesados pelas verdades e emociona em sua simplicidade. Também sabe que um artista independente leva no peito a “responsa” e não “afina” diante de todo esse contexto.

Sem dúvida é álbum que apresenta muita musicalidade e é repleto de ótimas “sacadas” em suas letras! Merece todos os prêmios que veio acumulando e já entrou na minha discoteca básica!

Com a alegria de indicar uma obra de arte nesse artigo, me despeço novamente desejando a todos um ótimo, divertido e revigorante final de semana, desta vez ao som do disco “Nó na Orelho” de “Criolo”!

Mas quanto a existir amor em SP? Isso já é outra história… (risos)

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