O tiro no pé da música brasileira…

Estive pesquisando muito sobre os “porquês” da situação atual da música brasileira e após ter colhido pareceres e pontos de vistas sobre as possíveis causas da latente escassez de qualidade que atravessamos, acho que me deparei com uma ótica alternativa bastante interessante.

Há quem diga que o “fim” das gravadoras criou uma ausência de crivo para selecionar os melhores trabalhos musicais e apenas lançar os afortunados escolhidos pelos seus departamentos artísticos. Contudo, existe o contraponto de que o “filtro” excessivo que as gravadoras praticavam engessava o mercado e permitia aparição a apenas “meia dúzia” de artistas de cada vez. Outra possibilidade é a de contestar o “julgamento” dos trabalhos, que por vezes tinham maior peso quanto ao seu potencial comercial, exatamente como hoje…

Também há a linha de pensamento onde se atribui esse momento monossilábico da criatividade musical às produtoras que “compram” extensos espaços nas grandes emissoras de rádio e TV, enfiando produtos musicais descartáveis goela abaixo da população. Eu particularmente acho que essa era a prática usual das gravadoras e que apenas mudou de mãos, migrando para onde foi a “grana”. Ou seja, hoje quem está com o dinheiro nas mãos são os empresários e produtoras (que vendem os shows) e não mais as gravadoras (que vendiam os discos e CDs).

Ainda há quem diga que a facilidade em se gravar devido aos avanços da tecnologia digital (computação), somado ao barateamento desses equipamentos poluiu o mercado com uma enxurrada de trabalhos produzidos em grande parte por amadores, que ao invés de visar à boa música como produto final, almejam o que antes seria uma “consequência” ou até um “subproduto” do bom trabalho, a “fama”.

Por outro lado, sem essa moderna tecnologia tão disponível, também não teriam aparecidos os incontáveis bons trabalhos que hoje representam a maior parte das novidades do cenário musical.

Por fim, tem àqueles que atribuem à Internet qualidades opostas para o mesmo ponto! (risos) A facilidade em veicular milhões de trabalhos gera uma sobrecarga de informações, cria pseudo-artistas, contudo, também dá visibilidade a trabalhos e talentos que de outra forma jamais apareceriam…

Que assunto confuso! (risos) Todos os fatores têm fortes pontos positivos e negativos e, isso porque foi apenas explanado brevemente…

Mas tem uma “ficha que caiu” e dá outro enfoque para essa questão. No dia 17/01/2012 foi publicado um novo decreto pela presidência da república, que regulamenta os critérios para “concessão” de rádio e TV. Ele regulamenta prioritariamente as “concessões” para emissoras “comerciais”, que são as mais populares, presentes e predominantes na “educação” da população como um todo. Não parece interessante que justamente as emissoras “comerciais” são as que têm maior influência na “educação e cultura” de nosso povo?

Pois é, se o foco dessas emissoras é o comércio, elas fatalmente vão fornecer para o povo apenas o que ele quer, como: Notícias sensacionalistas, reality shows e as músicas que hoje vimos por aí. Afinal, se o público só conhece isso, como ele poderia querer consumir algo que sequer sabe que existe? Outro nítido fator é que pouquíssimos dos grandes veículos de comunicação têm um projeto de melhoria de sua programação, submetendo a sua grade simplesmente ao que é mais popular no momento. Ou seja, muito lixo!

Agora, pra simplificar, pensem apenas no seguinte exemplo: O país, estados e cidades investem “bilhões” de reais em creches, escolas, cursos profissionalizantes e faculdades para que os professores passem informações, noções e valores culturais que são descaradamente “desmentidos” pelos mais populares programas das grandes emissoras rádios e de TVs comerciais, que exploram “concessões” fornecidas pelo governo de nosso próprio país! É, ou não é um tiro no pé?!

Mais uma vez findo por desejar um ótimo e revigorante final de semana a todos!

Veja a imagem da página publicada – JPG:

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4 comentários

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  1. Será que somente a falta de qualidade, a péssima divulgação, a imposição dos produtores é que torna nossa produção musical tão ruim?

    Naturalmente em meio a tudo isso, temos com certeza música muito boa.

    Mas não será também possível que não saibamos mais ouvir música de qualidade, ou o que consideramos de bom gosto?

    Sempre podemos buscar algo diferente das onomatopéias, dos tchereres, dos tchacabuns, ou dos remelexos das dançarinas que abundam, “sem trocadilhos”, nas músicas ditas mais populares?

    Aliás, popular não é sinônimo de má qualidade. Eu acho que cabe a todos que gostamos de boa música buscar a qualidade desejada.

    A internet pode ser uma grande aliada, informe-se, consulte, encontre e ouça aquilo que você gosta. Vamos aprender a ouvir o que queremos, não o que nós impõe.

    Parabéns Nando!
    Abs, Dê.

    • JULIO ZANNINI em 26 de junho de 2012 às 12:32
    • Responder

    Só vejo uma maneira de mudar esse quadro terrível por que passamos no cenário musical brasileiro e até no mundo, a união dos músicos independentes formando associações com representação qualitativa e quantitativa para pressionar os políticos a elaborarem projetos de leis obrigando as emissoras de rádio e tv, concessionárias há bem que se diga, a oferecerem a contra partida por esse direito, ou seja; duas horas por dia destinada aos músicos independentes, agenda cultural divulgada pela manhã, à tarde e a noite diáriamente

    Não tocar mais que duas vêzes ao dia qualquer que seja a música com sucesso seja forjado ou não, divulgar todos os ritmos musicais nacionais ou não, enfim estabelecer normas e critérios para essa gente irresponsável com a cultura em nosso país.

    Não podemos deixar na mão desses ditadores culturais a programação da emissora, teremos censura? Sim, teremos, pois já estamos diante de uma DITADURA e é só transformá-la para melhor.

    Júlio Zannini.

    • Claude em 26 de junho de 2012 às 10:56
    • Responder

    Internet é um excelente canal de propagação, mas eu acho que é a qualidade do som que atrapalha…

    A maioria das pessoas escutam Youtube usando os alto-falantes do próprio PC, notebook, tablet e outros smart phones.

    Dá para curtir um bom som desconhecido dessa maneira e se apaixonar por ele?? Acho difícil.

    Quanto ao lixo musical, por ser lixo, ele nem um pouco é prejudicado pela falta de dinâmica e banda de frequência dos altos falantes!

    Além disso, é só acrescentar umas mulheres se rebolando e pronto: ampla divulgação assegurada!! A rádio é um canal bem melhor em termos de qualidade de som, valorizando mais a música de qualidade – e não tem imagem para disfarçar a má qualidade da “música”!

    Antigamente a boa música recebia uma promoção das rádios que eram independentes. Elvis Presley começou assim, os Beattles e outros também devem muito ao rádio.

    Hoje a radiodifusão está na mão de grandes conglomerados que controlam o buquê completo de médias: televisão, rádio, imprensa, distribuição de música, internet.

    Esses conglomerados, obviamente promovem somente “produtos” que lhes darão um rápido retorno e, infelizmente, só o lixo da produção artística parece dar dinheiro fácil. É só assistir os canais de televisão abertos nos horários ditos nobres para se convencer disso!

    Não existe mais a vocação de promover música, somente a ansiedade constante de dar um retorno financeiro para o acionista…

    • Alex em 26 de junho de 2012 às 03:22
    • Responder

    Parabéns Nando Pires, mas vale lembrar que estas gravadores usam seu acesso livre a produtores responsáveis por trilha sonora de novelas, programas de TV para barganhar porcentagem nos cachês de shows dos artistas, uma vez que discos e música não vendem mais no Brasil.

    Com certeza o monopólio não acabou apenas mudou de tamanho, agora sua música “entra se você tiver dinheiro”.

    Antes tinha que ter o dinheiro e o selo. (Alex)

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