Você tem medo de quê?

Nesse artigo quero compartilhar com vocês uma percepção que tive há um certo tempo e já tendo conversado com outros músicos, compositores e jornalistas, ela foi sendo lapidada.

Falo da necessidade do ser humano em “temer” alguma coisa e do reflexo do que se “teme” no imaginário das pessoas e por fim, dos compositores, poetas, cineastas, e escritores que manifestam isso em suas obras.

Particularmente gosto muito das músicas das décadas de 1950 e 1960. Num primeiro momento canções animadas, voltadas para a diversão, numa espécie de “borracha” psicológica para apagar os horrores da 2ª guerra mundial. Músicas feitas pelas pessoas que combateram, pelos soldados e/ou por seus contemporâneos. Letras e ritmos festivos para comemorar a “vida”, que no momento da guerra tinha sido tão subvalorizada.

A década de 1960 já difere muito quanto aos assuntos que as letras das músicas pautavam, bem como seus ritmos, arranjos e sonoridades também se distanciaram amplamente dos anos 50. Ela se caracteriza por uma mudança de geração. Agora eram os filhos dos combatentes que escreviam e compunham as letras, muitos deles órfãos e cujos lares ainda sentiam as seqüelas da guerra. Vários dos pais dessas crianças eram extremamente reacionários ou padeciam de problemas psicológicos como terror noturno, síndrome do pânico, ou mesmo eram portadores de necessidades físicas especiais devido aos ferimentos em batalha.

Esses filhos não queriam e nem podiam “esquecer” a guerra, eles viviam suas conseqüências quotidianamente em seus lares, suas músicas precisavam expressar toda essa complexidade. A geração dos compositores da década de 1960 encerra nomes como Bob Dylan, Chico Buarque, Jimi Hendrix, Beatles, Stones, todo o movimento da tropicália no Brasil e como se pode facilmente perceber, estamos diante da mais produtiva e revolucionária época da música popular mundial.

A década de 1970 já era composta dos netos dos combatentes da 1ª guerra mundial e sem vivenciar as batalhas, bem como os dramas posteriores à ela, eles se ativeram aos medos mitológicos e da ficção. É fácil perceber isso através do cinema. Procure filmes de 1970 pra cá e irá se deparar com “Sexta Feira 13” número 112, “A Hora do Pesadelo” edição 54, “Resident Evil” número meia dúzia e por aí afora.

Com esse artigo, quero mostrar como o “medo” de uma geração tem influencia na produção artística, cultural e de suas obras, o que nesse caso está levando a que fiquemos presos à ficção, como se o homem não fosse canibal e predador de si mesmo.

Somos subtraídos diariamente de nossos “direitos” pela corrupção de nosso sistema político, enquanto (em grande parte) também não somos tão exemplares no cumprimento de nossos “deveres” e para amortecer isso tudo, temos um “caminhão” de músicas, filmes, jogos de vídeo games e gibis para nos manter no “mundo da lua”.

Só que tem gente jogando o “jogo da vida real” e bem longe da imaginação realiza coisas concretas diariamente  conduzindo uma legião de alienados como bem entendem, para satisfazer suas próprias vontades. Ouçam “Vida de Gado” do “Zé Ramalho” e verão o que digo!

É momento de olharmos para tudo o que nos cerca e perguntar: Por quê isso é assim ou assado? Tem de ser necessariamente desse jeito? O quanto posso escolher sobre isso tudo?

Que tenhamos todos um ótimo, descontraído e real final de semana!

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1 comentário

  1. Gostei do termo “borracha” psicológica “.

    Quanto ao “refletir sobre”, caminho ao qual o texto nos leva, digo:

    – Fundamental a reflexão para todo e qualquer fazer; sendo em minha leitura, o “fazer artístico” a porta principal desse acesso humano. Pois que, inunda um imenso grupo de seres.
    Parabéns pelo texto.

    Meu carinho.

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